Um Romance Noir

Marlene Dietrich, em O Anjo Azul (1933)
Marlene Dietrich, em O Anjo Azul (1933)

Foi quando ela entrou pela porta dos fundos
A cidade fez-se mais silenciosa que de costume
A cortina de fumaça pelas largas avenidas remetiam a um romance noir escrito na 3º pessoa
Os carros cintilavam seus faróis nas grossas gotas da tempestade
Ela é a heroína de cinema mudo, com sua imagem irretocável
Exceto pelo rímel borrado por uma gota que insiste em escorrer por sua face

Muda, completamente alheia ao temporal
Cambaleante a cidade acolhe seus pensamentos
Encolhe seus medos…
Não era para ser assim”, ela sussurra num tom grave abafado pela canção

Quantos acordes cabem na canção?
Quantos cigarros amassados no cinzeiro serão necessários para lhe mostrar que a sorte lhe sorriu e se foi
Ela deixou escapar…
Não soube manter…
Errou na escolha

Foi quando ela sentou-se a mesa ao fundo do bar
O som da banda soou mais contundente que de costume
O salão enfumaçado pelos cigarros
Os olhos acesos reiteravam a promessa que não foi feita
Como num filme classe “C” recheado de clichês
A luz sobre o veludo verde
A luz dos seus olhos verdes

Ela era a heroína de um romance “pulp”
Com seus sonhos em branco e preto
Exceto pelo seu desejo secreto
Borrado pelo batom dos meus lábios…

por Ariston Sal Junior