Top 10 – Discos de Vinil Nacionais

Cresci na transição do analógico para o digital e considero isso uma questão muito positiva. Ao mesmo tempo em que aprecio as maravilhas desse mundo novo que a Internet nos proporciona, onde entro em  contato com uma gama de informações que jamais poderia sonhar nos idos de 1980, por exemplo, aprendi também o valor de se apreciar música de qualidade, com calma. Sou da época dos discos de vinil (pré-MP3), onde um álbum era sorvido faixa a faixa, os dois lados do disco. Lia todo o encarte com a ficha técnica, as letras, os compositores. Hoje tudo é muito corrido e dificilmente me sobra tempo para esse “antigo” ritual, mas sempre que possível ouço um álbum na íntegra, como nos velhos tempos. Dito isto, selecionei 10 discos nacionais que me influenciaram e ajudaram a moldar o que sou hoje. Abaixo estão os MEUS melhores discos (nacionais e internacionais) e que, se eu fosse você, não deixaria de ouvir.

Roberto Carlos em Ritmo de Aventura - Pitadas do Sal
Roberto Carlos em Ritmo de Aventura – 1967

Trilha sonora do filme homônimo, estrelado por Roberto Carlos, esse disco fez parte da minha formação musical, na década de 1970, junto a outros discos do Rei. Esse marcou pela qualidade das músicas, o ritmo das canções e, claro, por remeter as cenas do filme, “inspirado” em Os Reis do Iê-Iê-Iê e Help!, dos Beatles. Roberto Carlos em Ritmo de Aventura contém os clássicos “Como é Grande o Meu Amor Por Você“, “Eu Sou Terrível“, “Quando“, “Por Isso Corro Demais” e “Você Não Serve Pra Mim“.

A Arte de Caetano Veloso - Pitadas do Sal
A Arte de Caetano Veloso (Coetânea) – 1975

Essa coletânea de Caetano Veloso, lançado em meados da década de 1970, foi inserida em meu lar, ao lado de uma coletânea no mesmo estilo de Gilberto Gil, por meu pai. Ao lado dos discos do Roberto Carlos, essa coletânea rodou muitas vezes na agulha da minha vitrola portátil da Philips, presente de aniversário de minha mãe. Lembro que ouvia e me identificava mais com as canções de Caetano Veloso, que as do Gil. Com essa coletânea dupla tomei contato, conscientemente, com clássicos como “London, London“, “Alegria, Alegria“, “Tropicália“, “Baby“, “Não Identificado“, entre outros…

As Aventuras da Blitz - 1982
As Aventuras da Blitz – 1982

Ouvi “Você Não Soube Me Amar” pela primeira vez no verão de 1982, em um radinho de pilha de um colega que morava em frente a minha casa, no subúrbio do Rio de Janeiro. Passava das 18 horas e lembro que fui contagiado com algo diferente. Poucas vezes eu me emocionei tanto com uma música nova. “Eu tinha 12 anos e ainda me lembro do dia…”. Algumas semanas depois eu ganhei o compacto com a icônica canção, brinde de uma promoção do shampoo Wella Seleção. Quando finalmente o primeiro LP da Blitz foi lançado, no segundo semestre do ano, meu pai me presenteou, comprando-o na extinta Mesbla. Recordo com muita clareza a primeira audição. “Salve, salve senhoras e senhores e rapaziada em geral (aumentem o som)…”, eram os primeiro versos da música de abertura, “Blitz Cabeluda“. Perdi as contas de quantas vezes ouvi o disco naquela semana. Esse, sem dúvida, foi o disco mais influente em minha vida. Posso afirmar com certeza que por conta dele, e da própria banda, lógico, eu “aprendi” a tocar gaita, estudei teatro no O Tablado, tive algumas bandas pelo Rio e fora dele e passei a “aperfeiçoar” meu gosto musical com o som produzido pelas bandas dos anos 1980 e os artistas que as influenciaram. Sem contar que esse álbum foi responsável pela “abertura” das portas das gravadoras para vários outros artistas que vieram na cola da Blitz, como Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens e Barão Vermelho.  Um marco.

Cenas de Cinema - Pitadas do Sal
Lobão – Cenas de Cinema – 1982

Logo após gravar o primeiro LP da Blitz como baterista, Lobão nem esperou o lançamento do disco e tratou de correr atrás de seu próprio álbum solo, já gravado previamente com a colaboração de luxuosos amigos como Lulu Santos, Ricardo Barreto, Marcelo Sussekind, Marina Lima e Ritchie. A música que dá nome ao disco, “Cena de Cinema” e  “Doce da Vida” tocaram razoavelmente bem na Rádio Fluminense, mas o disco vendeu próximo de 6 mil cópias apenas, saindo em seguida de catálogo. Cena de Cinema é um clássico para mim e um dos discos mais subestimados dos anos 1980. O vinil, assim como a edição em CD lançada em 1991, são raridades. O primeiro mais do que o segundo. Eu tenho os dois. 😉

Barão Vermelho 1982 - Pitadas do Sal
Barão Vermelho – 1982

Batizado simplesmente como Barão Vermelho, o primeiro LP da banda é o meu preferido nacional, “ever”. Rock puro, urgente, com letras inteligentes (hoje consideradas obras-primas). Eu escrevi um post especial para esse disco, que você pode ler clicando aqui.

Vôoa de Coração - Pitadas do Sal
Ritchie – Vôo de Coração – 1983

Vôo de Coração é o nome do primeiro álbum do músico inglês, Ritchie. Lançado em 1983, o disco fez enorme sucesso, com mais de 700 mil cópias vendidas e desbancou o próprio Roberto Carlos das paradas de sucesso daquele ano.O álbum possui os sucessos “Menina Veneno“, “Casanova“, “Pelo Interfone” e “A Vida Tem Dessas Coisas“. Foi gravado com a colaboração de vários amigos do cantor, como Lulu Santos, Lobão, Liminha e Steve Hackett (ex-Genesis). Hoje o disco parece soar datado, já ouvi algumas pessoas que taxam o disco de brega. Nada disso. Na época de seu lançamento, o LP possuía um som moderno, rico, bem produzido e muito bem arranjado. Um disco bem resolvido. Outro clássico subestimado dos anos 1980.

RPM - Revoluções Por Minuto - 1985
RPM – Revoluções Por Minuto – 1985

O pop rock nacional nos anos 1980 pode ser dividido pós e pré RPM. A banda liderada por Paulo Ricardo, principal compositor do grupo, ao lado do tecladista Luiz Schiavon, rompeu várias barreiras no cenário musical brasileiro, não só em vendagens, ultrapassando a marca do milhão de cópias vendidas, mas também na produção e divulgação de um artista. Os shows do RPM se tornaram verdadeiros espetáculos, regados a laser e iluminação comandada por Ney Matogrosso, que também assinava a produção. O primeiro LP, Revoluções por Minuto, traz tudo o que o RPM representou na música brasileira, na segunda metade dos anos 1980. “Louras Geladas“, “Rádio Pirata“, “A Cruz e a Espada“, “Olhar 43“, está tudo lá. O disco figura na lista dos 100 maiores discos da música brasileira, compilada pela revista Rolling Stones Brasil.

Titãs - Cabeça Dinossauro - 1986
Titãs – Cabeça Dinossauro – 1986

Divisor de águas na carreira do grupo Titãs, Cabeça Dinossauro é um dos melhores discos de rock nacional já lançado. O grupo (mais new-wave nos dois primeiros discos) buscava uma sonoridade própria, única, pesada. Temas como religião, polícia e família ganham registros em forma de punk-rock, funk e reggae. Das 13 faixas do álbum, 11 foram executadas nas rádios, incluindo a censurada “Bichos Escrotos“, com os versos “vão se fuder”. Faz parte desse disco os clássicos dos Titãs: AA-UU; Igreja; Polícia; Estado Violência; Família; Homem Primata e O Quê.

Legião Urbana - Dois
Legião Urbana – Dois – 1986

Contrário a sonoridade pesada do disco dos Titãs, Cabeça Dinossauro, lançado um mês antes, o segundo disco da Legião Urbana mostra um amadurecimento na sonoridade do grupo e uma mudança tão grande, comparado ao disco de estreia da banda, que o lançamento por si só poderia ser considerado arriscado. Mas o que se ouve nas 12 faixas lançadas por Renato Russo, Renato Rocha, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá é uma canção mais bacana que a outra e a mudança não causou estranheza nos fãs do grupo, tanto que “Dois” vendeu mais que o primeiro álbum. O disco vendeu 1,2 milhões de cópias a época de seu lançamento, alavancando a Legião Urbana para a estratosfera do rock nacional e transformando Renato Russo em “guru” para muitos (não é o meu caso). Clássicos como “Tempo Perdido“; “Quase Sem Querer“; “Índios” e “Eduardo e Mônica” tocaram exaustivamente nas rádios de todo País e são considerados os grandes clássicos da banda, ainda hoje.

A Revolta dos Dandis - Pitadas do Sal
Engenheiros do Hawaii – A Revolta dos Dandis – 1987

O segundo disco dos gaúchos dos Engenheiros do Hawaii, também marca uma mudança na sonoridade da banda, além da mudança na formação do primeiro disco, o Longe Demais das Capitais. Sai Marcelo Pitz, baixista com influência de reggae e ska, som que caracteriza o LP inicial do grupo e entra o guitarrista Augusto Licks, que era da banda de outro gaúcho, o músico Nei Lisboa. Humberto Gessinger, líder e principal compositor assume o baixo e elementos no som da banda evoca alguns dos seus ídolos, como Rush e Pink Floyd, além da estética existencialista das letras de Gessinger, influenciado por Sartre e Camus. A primeira audição, comparado com o que rolava na época, do segundo disco dos Engenheiros não é fácil, e isso foi o que mais me atraiu nele, pois fugia do senso comum das bandas da segunda metade dos anos 1980. Mais lírico, acústico e introspectivo, “A Revolta dos Dândis” nos apresenta canções como “Terra de Gigantes”, a épica “Infinita Highway”, “Refrão de Bolero”; “Vozes” e a canção que viria a batizar o primeiro fã-clube da banda, “Além-dos-Outdoors”, fundado por mim e meus amigos de adolescência Egon, Beto e Kiko.

Foi no lançamento desse disco, em fev/mar de 1988, que eu realizei um sonho de garoto, subir no palco com uma banda e encarar uma platéia. No auge dos meus 17 anos, eu acompanhei o power trio no palco do Teatro Ipanema, no RJ, tocando gaita, em A Revolta dos Dândis II, quarta música do set list do show. O fato rendeu até uma citação na crítica da revista Bizz, assinada pela jornalista Sônia Maia… o resto é história. =)

Barão Vermelho: O Primeiro a gente nunca esquece

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“Pouco importa o que essa gente vá falar mal, falem mal. Eu já to pra lá de rouco, louco total… Eu sou o teu amor entenda. Você precisa descobrir o que está perdendo. É, o que está perdendo!”. Assim o Barão Vermelho estreava em 1982, no primeiro álbum do grupo, batizado simplesmente como “Barão Vermelho”.

Vivendo ainda sob o regime da ditadura, um período mais “brando”, com o general João Figueiredo no poder, a juventude brasileira não se identificava muito com o que rolava no dial. Bastou uma cena carioca, uma rádio e um local de shows para impulsionar as bandas que já existiam. Pronto, estava dado o pontapé inicial no que foi considerado o “boom” do Rock Brasil, com Blitz, Lulu Santos e Barão Vermelho abrindo as portas.

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Gravado em dois finais de semana e lançado pela Som Livre em 27 de setembro, o primeiro álbum do Barão é o disco mais cru, visceral e genial do rock brasileiro. Seu som de garagem, gravado com urgência e pujança, foi mal registrado nos estúdios da gravadora, é verdade, o som é abafado e chapado, pois a mixagem não prezou pela qualidade, mas esse fato é menor ante a qualidade de suas canções. Letra e Música combinavam perfeitamente, com o punch stoneano que era evidente no som da molecada na faixa dos seus 18 anos. Guto Goffi, Maurício Barros, Dé Palmeira e Roberto Frejat possuíam o feeling das músicas, do rock travesso e Cazuza, o principal letrista e vocalista, se encaixava como uma luva com sua poesia e escracho.

Misturando Dolores Duran e Cartola, com Rolling Stones e Bob Dylan, blues, rhythm blues, rock e MPB fazem a fusão do caldeirão do Barão e faz com que o disco traga tantos petardos reunidos que fica difícil imaginar que uma garotada pudesse produzir som tão maduro. Sob a supervisão do saudoso Ezequiel Neves e Guto Graça Mello, “Down em Mim”, “Ponto Fraco”,” Billy Negão”, “Conto de Fadas”, “Bilhetinho Azul” e a clássica “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, entre outras, não foram totalmente compreendidas, na época, pela galera que estava ouvindo “A vida melhor no futuro”, do Lulu, ou o “Chope com batata-frita” da Blitz e vendeu muito pouco, mas o tempo se encarregou de colocar o álbum e suas canções para a história.

A partir deste disco o Barão Vermelho deixou sua marca na história do rock brasileiro, sendo, ao lado de Titãs, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, uma das mais influentes bandas brasileiras. O disco completou três décadas em 2012 e foi remixado pelos Barões remanescente para um lançamento comemorativo. Esse não pode faltar na sua coleção!